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O que esperar da situação da saúde pós-desastre no RS?

Como sabemos, o último mês foi terrivelmente devastador para o estado do Rio Grande do Sul devido ao desastre natural que ainda afeta a região. As chuvas torrenciais além do esperado, trouxeram enchentes em 90% das cidades que resultaram em devastação generalizada, causando morte à várias pessoas, perda de propriedades e uma grande crise de saúde pública. Os edifícios habitacionais e empresarias, tanto na zona urbana quanto na zona rural, foram inundados e danos consideráveis a residências, comércios e locais como hospitais e centro de saúde tiveram danos inimagináveis.

O caos criado pelas enchentes desse desastre natural trouxeram uma séries de consequência graves para o estado do Rio Grande do Sul e para a saúde, como, por exemplo:

Deslocamento em massa da população afetada: praticamente a maioria das pessoas que foram afetadas diretamente pelas enchentes foram forçadas a deixarem para trás seus pertences e sua moradia para buscarem abrigos improvisados e centros de acolhimento.
Esse deslocamento massivo não só colocou pressão sobre os recursos locais, mas também expôs a população a condições insalubres e superlotadas, aumentando o risco de surtos de doenças. Famílias inteiras foram separadas, animais de estimação perdidos e pertences pessoais deixados para trás. As histórias de pessoas que conseguiram salvar apenas a roupa do corpo são inúmeras, e o trauma psicológico decorrente desse desastre natural é imenso.

Contaminação de águas que podem trazer doenças: as enchentes causaram a contaminação de fontes de água potável, levando ao aumento de infecções transmitidas pela água, como leptospirose, hepatite A e diarreia. A limpeza inadequada e a falta de saneamento adequado em áreas inundadas exacerbaram esses problemas de saúde. Além disso, a proliferação de mosquitos, devido às águas paradas, aumentou o risco de doenças como dengue, zika e chikungunya. A população, já fragilizada pelo desastre natural, enfrentou dificuldades adicionais com o acesso à água limpa e a necessidade de medidas preventivas para evitar doenças.

Impacto nos serviços de saúde público e privado: muitos hospitais e clínicas foram severamente afetados, comprometendo a capacidade de atendimento e obviamente a infraestrutura, com a perda de materiais, objetos e equipamentos necessários. A destruição de infraestruturas de saúde complicou o acesso da população a cuidados médicos, tanto para emergências quanto para tratamentos de rotina. Médicos e enfermeiros se viram trabalhando em condições extremas, muitas vezes sem eletricidade ou suprimentos adequados. Pacientes crônicos, que dependem de tratamentos regulares, como diálise ou quimioterapia, foram particularmente afetados. A dificuldade em acessar esses serviços vitais levou a uma preocupação no quadro clínico de muitos indivíduos.

O desastre natural expôs vulnerabilidades significativas no sistema de saúde do Rio Grande do Sul, destacando tanto problemas preexistentes quanto novas demandas emergentes:

Sobrecarga do sistema de saúde privado: Com muitos estabelecimentos públicos incapacitados pelo estrago deixado pela chuva, houve uma migração forçada de pacientes para a rede privada. Essa mudança abrupta sobrecarregou as clínicas e hospitais privados, que enfrentaram dificuldades em absorver o aumento repentino na demanda por serviços médicos e claro, o aumento gigantesco nos indicadores de sinistro. A pressão adicional resultou em longas filas de espera, falta de leitos e uma crescente frustração tanto de pacientes quanto de profissionais de saúde. Muitos hospitais tiveram que improvisar espaços de atendimento em áreas não destinadas a tal fim, como salas de espera e corredores.

A resposta ao desastre natural e a possível recuperação requerem uma abordagem que aborde tanto as necessidades imediatas quanto as soluções de longo prazo:

Inicialmente, a prioridade é fornecer abrigo seguro, alimentos, água potável e atendimento médico emergencial para as pessoas deslocadas. Organizações governamentais e não governamentais precisaram coordenar esforços para assegurar que os recursos doados chegassem às áreas mais afetadas. A criação de centros de distribuição de ajuda e a mobilização de voluntários são passos essenciais para garantir que a assistência chegue a todos que necessitam.

Implementar medidas rigorosas de saneamento e controle de doenças é essencial para evitar surtos epidêmicos. Isso inclui campanhas de vacinação, distribuição de kits de higiene e a instalação de sistemas de purificação de água, que já acontece inicialmente. Além disso, campanhas de conscientização sobre práticas de higiene pessoal e a importância do consumo de água tratada são vitais para reduzir o risco de doenças pós-desastre natural.

Reconstruir hospitais e clínicas danificados é uma prioridade. Além da reparação, é importante fortalecer essas estruturas contra futuros desastres, incorporando tecnologias de construção resilientes a enchentes e outros eventos climáticos extremos.

A restauração de infraestruturas públicas, como estradas, pontes e redes de energia, é fundamental para a retomada das atividades econômicas e sociais, pois sem elas, a população acaba se tornando ilhadas e com difícil acesso para a chegada de doações e ajuda. O restabelecimento dos serviços públicos é essencial para garantir a mobilidade e a segurança da população. A reconstrução dessas infraestruturas deve considerar a inclusão de soluções sustentáveis e resilientes, que possam suportar futuros eventos climáticos extremos. A implementação de sistemas de drenagem eficientes e a construção de barreiras contra enchentes são exemplos de medidas que podem ser adotadas para reduzir os riscos no futuro.

Para evitar e prevenir os efeitos de futuros desastres naturais, é fundamental envolver a comunidade em iniciativas de preparação e resposta. Programas de educação sobre riscos de enchentes, treinamentos de resposta a emergências e a promoção de práticas de construção sustentável podem aumentar a resiliência local.

Além de todos os pontos que citamos, é válido lembrar que o aumento de sinistros nas operadoras de saúde foi e será
inevitável. Pensando a curto prazo, já é possível localizar aumento de atendimentos através de operadoras de saúde e devido às consequências de futuras doenças, podemos afirmar que o sinistro aumentará ainda mais.

A imprensa nacional chama o desastre climático de o maior sinistro da história do Brasil. Entre 2020 a 2023, foram registrados cerca de R$ 30,4 bilhões de gastos com a Covid-19, maior pandemia enfrentada em nossa realidade. Até o momento, a ANS não divulgou informações sobre valores de sinistralidade que as operadoras de saúde enfrentarão com este corrido. No entanto, para auxiliar o setor da saúde, a ANS divulgou as seguintes informações:

Flexibilizar os prazos de envio de informações periódicas obrigatórias, como os dados do Sistema de Informações de Beneficiários (SIB), Sistema de Informações de Produtos (SIP), Documento de Informações Periódicas das Operadoras de Planos de Saúde (DIOPS) e Troca de Informações em Saúde (TISS);

Suspender os prazos de processos administrativos, de 2 de maio até 2 de junho; e
Suspender a exigência do cumprimento dos prazos máximos de atendimento por 30 dias, contados a partir do dia 1 de maio

O desastre natural no Rio Grande do Sul revelou a vulnerabilidade do estado a eventos climáticos extremos e a necessidade urgente de fortalecer a infraestrutura de saúde e de resposta a emergências. A experiência destaca a importância de uma abordagem integrada que combine apoio humanitário imediato, reconstrução resiliente e preparação para futuros desastres e sinistros.

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